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Tratamento com sentido
Um semestre de afetamentos e transformações
Agradecimento especial a todos que se permitiram afetar e transformar com este projeto. Fiquem com o nosso último adeus.
Paula Neiman
24 de novembro de 2022
O Tratamento Com Sentido nasce da inquietude, da ânsia pelo novo, da busca de possíveis soluções, da vontade de mostrar a transformação e de se transformar, da vontade do afetamento, de uma pauta não dita para a abrangência de um conjunto de novas ideias, de novos termos, leituras, e principalmente, novas e imensas histórias. Nasce da união de duas potências: a saúde pública e o jornalismo. Aspirantes a jornalistas, com vontade de mudanças, saem das salas de aula para ouvirem profissionais que trabalham com saúde mental. Poucas revoluções não poderiam ser empenhadas com essa equipe, e não foram maiores por falta de tempo. Um semestre é pouco para mudar o mundo.
O projeto nasce, na prática, como um tema para o projeto final de jornalismo. Única oportunidade dos alunos se aprofundarem em um novo assunto, e passarem um semestre totalmente imersos nele. Depois de algumas aulas e ideias diversas, “batendo cabeça”, passeando por muitas sugestões, encontramos um cerne: a saúde mental. Já havíamos feito trabalhos sobre o tema em semestres anteriores, mas nunca mergulhado nele desta maneira.
Por algum motivo que só os ventos podem dizer, uma das alunas em suas buscas por si mesma e por tudo que a vida ainda tem para lhe ensinar, no mesmo semestre cursa disciplinas do curso de psicologia, em busca de novos ares e da fuga do sufoco que é o processo acadêmico. Já era, no entanto, uma amante da área, com várias relações cruzadas pela psicologia. E na hora de sugerir um tema dentro da vertente que já a animava, veio a ideia de produzir sobre a luta antimanicomial.
Na semana da discussão com o grupo se dava justamente o dia da luta antimanicomial, e o interesse pelo assunto avassalou. O resto dos 4 integrantes do grupo, mesmo desconhecendo o assunto, compraram a ideia e decidiram mergulhar juntos.
Ao longo deste caminho, deste semestre, alguns mergulharam lá no fundo e outros ficaram no raso, mas todos entraram nesse mar que é a saúde mental. A aluna que sugeriu o tema, dentro de seu interesse e particularidades, mergulhou tão fundo que quase esqueceu como voltar. A imersão foi total, e agora, voltando para a superfície, se sente nova. Esse mar a transformou, e a levou para outra pessoa, mais encontrada e menos padronizada.
O resto do grupo foi se encontrando na pauta individualmente e em coletivo. Foi possível ver os afetamentos diários e, aos poucos, o que para alguns tomou uma grande proporção, para outros, nem tanto, e estas transformações se deram com o tempo. Quem iniciou o tema tímido, passo a passo, se buscou e encontrou no conhecimento e na loucura um pouco de si e um pouco de nós.
Após este semestre, e com o coração apertado pela finalização deste projeto que tanto transformou e afetou, só podia ser a aluna que decidiu dar o pontapé inicial que escreve este texto. Escrevo estas linhas, pois foi o decidido pelo grupo, a ideia de finalizar com quem pensou o começar, mas unicamente por isso, de fato. Mas, tenho certeza que todos os integrantes poderiam escrever suas próprias perspectivas de afetamento e transformaçõa.
Em nome do grupo, agradeço a todas as pessoas que conversaram sobre as suas histórias e papéis na luta antimanicomial e na saúde mental. E é importante enfatizarmos que o nosso podcast O fim da Camisa de Força foi totalmente feito por mulheres, todas as fontes buscadas e que se disponibilizaram a conversar foram mulheres. Mulheres que fazem parte da saúde pública de alguma forma, mulheres gigantes, potentes e transformadoras. Quase todo o projeto foi feito por mulheres, tanto as fontes como o nosso grupo, que também é composto majoritariamente por mulheres. Além disso, com muito orgulho, temos uma coordenadora de disciplina que foi a nossa maior apoiadora. Foi lindo viver este semestre, foi gigante entregar este material tão rico, após tantos estudos, e com tanta gente incrível por trás.
Eu, em meu nome e dos meus colegas, agradeço a cada um que participou deste projeto de alguma forma. Posso dizer que aprendi com a loucura que o que ela quer de nós é a insurgência de sermos quem somos. É o ser real, e para ser real e nós mesmos, é preciso espaço, força, banca, coragem, afeto e mais um monte de outras coisas que eu ainda vou aprender, a deriva deste mar no qual não pretendo ancorar.
Obrigada aos professores da disciplina de Projeto V e à Famecos pela oportunidade engrandecedora, vida longa à disciplina que nos permitiu adentrar no escuro com tanta segurança dos nossos mestres.
E que a união entre jornalismo e saúde pública nunca dissipem e se fortaleçam, seguindo afetando e transformando vidas.